“Rust never sleeps”
A ofensiva alvura matinal faz com que o meu 1º pestanejar seja subitamente ilustrado por flashes da cena do filme “Blues Brothers”…” Are you cops ?...No mam…We’re musicians…”. À semelhança dos irmãos Jake e Elwood apercebo-me bruscamente de que me encontro também “…on a mission from God…”. Distanciando-me do profano da visão e confrontado com as ténues mas cimentadas decisões tomadas na noite anterior, capitulo perante a pesada e perigosa missão assumida…EU !…Eu é que vou ligar ao “Il Dottori” !...
Percorro tanto quanto me é “ressacamente” possível toda a sequência da noite anterior de forma a elaborar um plano…plano…preciso de um plano…
Mas antes disso tudo…
um café…
A rodopiante, interminável e musical dança da colher na chávena exemplifica o porquê da intenção e desejo serem imediatamente subjugados pela antevisão da recusa…Que argumentos ?...Como devo iniciar a conversa ?...Não vacilar perante a gélida frieza das palavras que antevejo ouvir ou assumir uma postura de “ Veni Vidi Vici”?...Recordar serviamente “Alésia” ou ostentar altivamente os louros ?...Até que ponto o açucar realmente se mistura com o café ?...Rendo-me…A evidência de que todo e qualquer plano é absolutamente irrelevante para a questão é demasiado óbvia…”So shall it be written …So shall it be done”….Este é de facto o seu modus operandi…
E por que não ?...Porque deverei eu ter receio da sua resposta?…Afinal não detenho eu nas minhas mãos o sonho de qualquer vocalista ?…dois guitarristas…compositores…ávidos por “falar”…com o espírito aberto, uma linguagem definida e dotados de um know-how mais do que suficiente para atingir o perpetuamente desejado “nirvana”…
-‘tou ?...entao zaralheng ?...Long time no see !
Porque terá sido tão óbvia a minha escolha ?...Não terá a nossa ancestral e embrionária vivência ditado o seu nome ?...
- ‘tão…’tás bom ?…
Ou limitei-me a carregar até este dia um peso e uma certeza à qual sabia não ter hipótese de fugir ?
- ‘Tou…Pá ..precisava de falar contigo uma cena…
Será presunção da minha parte achar que tenho na minha posse a resposta para toda e qualquer prece que secretamente ele tenha idealizado ?
- Mmm…então diz lá…
Por outro lado conhecendo-o como o conheço, sei que o “tempo” nele é relativo…um segundo da vida dele é uma eternidade na minha…e o que eu digiro com toda a gula e sabedoria, ele apenas ingere e consome saciando a básica necessidade de se alimentar…
-Pá…Ontem tive cá a jantar o “Strings”….e…tivemos os dois a falar…Mas conta lá…’tas fixe ?
Agora que sei que muito está por ser exposto…exteriorizado…lançado aos 4 ventos para quem quiser ouvir…ou mesmo para quem não for capaz disso…veículo de uma purgante e self-made psicanálise…isso eu sei…
- Sim…pois…e ?
E esse no fundo é o meu trunfo…Sou neste instante senhor do espaço e o lugar adequados para que o possas fazer a teu belo prazer…com toda a confortável confiança de quem joga em casa…na tranquilidade e devida segurança do teu “sofá”…
- Bem…já que perguntas…estamos a formar uma banda…e eu sugeri o teu nome para vocalista..ao que ele acedeu totalmente…ou é contigo a cantar ou não é…
Mas também estou ciente de que os códigos do programa serão teus…a chave que irá abrir a porta deste universo ainda está em teu poder…
- Pois…não sei…não sei se estou nessa…temos de nos juntar os três…e falar…Óoo pá…até porque eu já nem sei se consigo cantar…
Esta relação de mutualismo não deixa no entanto de fazer todo o sentido…afinal tu é que vais ser o espelho das nossas divagações e ao mesmo tempo o gerador do conceito e da mensagem…
- Perfeito…fiquei de marcar com o “Strings” um dia para nos reunirmos e falarmos sobre a cena toda…
Ou então no mínimo estamos todos a precisar de pura e simplesmente extravasar…loucamente…
- Pronto então marca lá isso e diz-me o dia…mas tem de ser rápido !
De facto o Neil Young tem toda a razão…”Rust never sleeps”…
…ou não…